quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

ERVAS DE CURA E DE SABEDORIA


Xamã Alba Maria

As ervas ou plantas medicinais são irmãos vegetais que se doam por conterem em seu cerne substâncias bio-ativas com propriedades terapêuticas, profiláticas e/ou paliativas. Elas acumulam em seus corpos princípios que quando ativados penetram em nossas células e conduzem ao caminho do bem estar e da cura. Sempre foram utilizadas pelos curadores, pelos avós e pelos povos da mata com respeito e sabedoria em sua utilização. Com o advento dos fármacos e consequentemente da indústria farmacêutica, tentou-se desqualificar a sabedoria dos mais antigos e a utilização dos chás usados desde tempos pré-históricos na medicina popular dos diversos povos. “Coisa de gente ignorante...” se dizia e ainda se diz, “Se tá doente TEM que ir ao médico”, ouvimos dizer... como se o sistema médico assegurasse um saber e uma cura. Como se não houvesse uma doença generalizada: a perda de si mesmo/a, a ambição desmedida, a depressão e tantos outros sintomas escondidos ou disfarçados em cada um/a de nós.

Como Xamã sempre conclamo a que voltemos à nossa verdadeira Mãe: a Natureza, que retornemos à casa onde reside toda nossa vida e força de prosseguir nossa missão. É lá que reside o amor pleno, o acolhimento, os princípios ativos primordiais para toda e qualquer cura. Além destes fundamentais princípios ativos existem também nos vegetais os compostos químicos como os terpenos, monoterpenos, alcoóis, fenóis, etc. que guardam em si os princípios ativos que as indústrias utilizam em seus medicamentos e cosméticos.

Esse tema é de tanta importância que reuniões unindo países são realizadas a fim de que a consciência se estabeleça e possamos retomar antigos saberes. Como exemplo tivemos além da declaração de Alma Ata, uma reunião encabeçada pela Organização Mundial de Saúde para a retomada ao uso oficial de Plantas Medicinais onde um marco importante foi estabelecido: a Declaração de Chiang Mai que teve como máxima: “Salvem plantas que salvem vidas”. Na verdade 80% da população mundial depende da medicina tradicional para atender a suas necessidades básicas de tratamento de saúde. No Brasil, sendo um dos países que possuem maior biodiversidade no mundo, de 1,4 milhão de organismos catalogados, 10% encontram-se aqui, com destaque para vegetais superiores, que somam 55 mil espécies. Nossa população tem tradição no uso de plantas para tratamento de suas necessidades básicas em saúde, oriunda dos povos nativos indígenas, da influência africana e da colonização européia, expressão de sua diversidade cultural.[Alba Mari1]

Essa constatação me faz pensar se as pessoas questionam o porquê do significado de tantas doenças, de hospitais superlotados, médicos estressados, crianças e velhos morrendo sem diagnósticos precisos, já que a natureza traz dentro dela mesma a cura. A quem interessa fomentar tanta doença e dor? Quem ganha com esse estado? Até quando fecharemos os olhos para não enxergarmos que o estilo de vida que criamos está falido e que nossa cura passa necessariamente por uma mudança de estilo de vida, um governo que tenha boas intenções e, de verdade, as aplique e de uma população que valorize e se orgulhe de seus antigos saberes?

Apesar disso tudo, a Natureza continua nos doando... quando caminho pelo que resta da Mata Atlântica de nossa região em Simões Filho me deparo com a aroeira (Schinus terebinthifolius) comprovadamente anti reumática, anti ulcerosa, cicatrizante, adstringente e anti inflamatória, vejo o eucalipto (Eucaliptus globulus), o quiôiô (Ocimum gratissimum), a água de alevante (Alpínia zerumbet), todas elas com propriedades medicinais fabulosas. A simplicidade da vida diante da complexidade dos interesses financeiros me deixa perplexa! Será que vamos continuar dormindo e doentes?

Alba Maria é uma Xamã (Fundação Terra Mirim – terramirim.org.br) que trabalha com as ervas medicinais e elabora Cosméticos Naturais - xamaalbamaria.blogspot.com







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