“Alagoas está vivendo uma das maiores tragédias de todos os tempos”. É assim que o presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Alagoas (COSEMS/AL), Pedro Hermann Madeiro, define a atual situação do Estado, desde o último dia 19, quando as fortes chuvas caíram, como uma bomba, sobre os municípios alagoanos. Naquele momento, os municípios atingidos eram 19. Agora, esse número subiu para 35. Isso porque, ontem (23) voltou a chover em alguns pontos do Estado. Quatro municípios estão em situação de emergência: São Luiz do Quitunde, Matriz do Camaragibe, Jundiá e Ibateguara. Outros 15 estão em estado de calamidade pública. São eles: Quebrangulo, Viçosa, Santana do Mundaú, Joaquim Gomes, São José da Laje, União dos Palmares, Branquinha, Paulo Jacinto, Murici, Rio Largo, Atalaia, Cajueiro, Capela, Jacuípe e Satuba.O presidente da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA), Luciano Barbosa, declarou que é lastimável a situação das cidades atingidas. O prefeito, que sobrevoou os municípios destruídos, viu um quadro de calamidade indescritível. “O que essas cidades estão passando é uma verdadeira tragédia. As imagens da TV não mostram a realidade, é impossível descrever”.Os números são expressivos: 29 mortos, 834 enfermos, 135 desaparecidos e 181.020 pessoas atingidas. 7.649 casas foram danificadas. A maior parte delas fica no município de União dos Palmares (2.150). As casas destruídas passam de 19 mil. Somente em Murici foram 4.000. Os desabrigados já estão contabilizados em 26.618 e os desalojados são 47.897.
“E o pior de tudo é que esses números podem subir. Muitos municípios ainda estão ilhados, com problemas de comunicação e eletricidade. Ou seja, ainda não é possível ter um panorama real desta tragédia, sem precedentes em nossa história”, conta Pedro Madeiro, que também é secretário de saúde do município de Quebrangulo: A cidade está reduzida a escombros.No Estado, os prejuízos materiais, em números aproximados, chegam a R$ 740 milhões, segundo estimativa do Governo de Alagoas, encaminhada ao Gabinete Civil da Presidência da República. Nesse mesmo relatório, entregue na quarta-feira, foi revelado que, apenas para a reconstrução das mais de 19 mil casas destruídas devem ser gastos, no mínimo, R$ 575 milhões. A reforma das pontes e rodovias custará, em média, R$ 173 milhões; os sistemas de abastecimento, outros R$ 12 milhões; e a pavimentação urbana, R$ 8 milhões.
As equipes da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) que estão monitorando os municípios afetados com as enchentes também apresentaram, ontem (23), o relatório das visitas técnicas realizadas aos abrigos onde estão alojadas as vítimas das chuvas. Os técnicos fizeram o diagnóstico e observaram as questões referentes às condições de tratamento da água, recolhimento do lixo, higiene dos abrigos, armazenamento e preparação dos alimentos.As equipes relataram a existência de pessoas com desequilíbrio emocional em decorrência da tragédia e também crianças apresentando diarréia.De acordo com a superintendente de Vigilância em Saúde da Sesau, Sandra Canuto, uma das medidas adotadas foi a coleta de água disponibilizada para consumo humano, que será analisada pelo Laboratório Central (Lacen). Também foram repassadas orientações aos desabrigados sobre os cuidados de prevenção de doenças de veiculação hídrica. Em situações de enchentes e inundações, a urina dos ratos, presente em esgotos e bueiros, mistura-se à enxurrada e à lama. Qualquer pessoa que tiver contato com a água ou lama contaminadaRecuperação dos municípiosO secretário de Planejamento de Alagoas, Sérgio Moreira, disse que deverá levar ao menos três anos a recuperação dos sete municípios mais atingidos. União dos Palmares, Branquinha, Rio Largo, Viçosa, Santana do Mundaú e Quebrangulo foram completamente destruídos pelas enchentes, no Estado. “Algumas cidades, a exemplo de São José da Lage, serão praticamente transferidas para outros locais”, afirma Sérgio Moreira. O secretário calcula que a maioria dos recursos necessários deva ser de origem federal, mas conta também com doações. Pelo menos R$ 5 milhões de recursos próprios (estaduais) estão sendo utilizados em ações imediatas de socorro.“Em alguns lugares parece que jogaram uma bomba atômica”, afirmou o governador Teotônio Vilela Filho. De acordo com ele, que sobrevoou, todos os municípios atingidos, o que ocorreu em Alagoas foi um desastre semelhante ao terremoto do Haiti, em janeiro passado.São Paulo e Rio Grande do Sul já enviaram, para o Estado, alimentos, colchões, cobertores, medicamentos e produtos de higiene que serão distribuídos para as famílias prejudicadas. Algumas delas perderam tudo o que tinham. Diante da situação “de cenário pós-guerra”, encontrada em Santana do Mundaú, distante 97 km da capital Maceió, o Governo do Rio de Janeiro, em parceria com o Governo de Alagoas, instalou, ontem (23), um hospital de Campanha na localidade, com uma área de 240 metros quadrados.“Os municípios precisam, com mais urgência, de alimentos de pronto consumo (enlatados e embutidos), água potável, leite, cobertores, colchões, roupas, medicamentos, fralda descartável, mamadeiras, material de limpeza e higiene pessoal, velas e fósforos”, ressaltou o presidente do COSEMS/AL, que espera a colaboração de todos.O governador agradeceu a solidariedade, também ofertada, pelos governadores dos Estados de Minas Gerais e Santa Catarina. “Todos estão sendo solidários. Também estou contando com o apoio do presidente Lula, que me assegurou que estará junto, na reconstrução das cidades”, destacou.
O presidente deve sobrevoar as áreas atingidas pelas enchentes, aqui e no Estado vizinho Pernambuco, ainda hoje (24). A agenda do presidente prevê que ele sobrevoe, de helicóptero, às cidades pernambucanas, durante a manhã. As alagoanas serãovisitadas no período da tarde. Lula promete R$ 100 milhões como ajuda aos dois Estados.A situação em alguns municípios“Quebrangulo vive um pesadelo que vai ficar para sempre” disse o prefeito Marcelo Lima que não tem descansado para tentar reparar os incontáveis estragos no município. A catástrofe devorou praticamente toda parte comercial, além de casas e prédios públicos localizados no Centro. A enchente do rio Paraíba deixou 70% da população desabrigada. O comércio local teveperda de 100% e a cidade encontra-se sem energia, água e comunicação.“Minha cidade não existe mais, ela sumiu do mapa”, lamentou a prefeita de Branquinha.
O município, praticamente, sumiu do mapa. “Eu não tenho mais cidade, ela está arrasada. A cidade se acabou. Branquinha como conhecemos é passado, ela foi atingida em seu coração, nesta tragédia”, declarou. O centro da cidade, onde todo o comércio funciona, com postos de saúde, setores administrativos dentre outros serviços básicos do município está devastado e, além das casas, todos os prédios públicos foram destruídos, a exceção de uma única escola pública. Os recursos na cidade permanecem escassos: falta de água potável e energia elétrica.Dados ainda não oficiais informam que, em Branquinha, 1800 pessoas estão desalojadas, 380 desabrigadas, seis continuam desaparecidas e dez foram a óbito.Já em Viçosa, até o momento, a Defesa Civil já registrou 8000 pessoas afetadas, incluindo moradores da zona rural e urbana. 500 estão desalojados; 1256 desabrigados; 100 deslocados e 47 feridos. As perdas materiais incluem 330 casas destruídas e 100 danificadas.O abastecimento de água, energia e transporte aos poucos estão sendo normalizados, mas o sistema de comunicação ainda não voltou. A comunidade da Cascuda e os quilombolas do Gurgumba continuam isolados. Trinta e cinco homens do Exército estão na cidade para recuperar as pontes de acesso.